A história da desamamentação

Nutricionista Christine Melcarne. Atendimento no Rio de Janeiro, em Consultórios em Botafogo e na Barra da Tijuca

A história da desamamentação

maio 6, 2013 Alimentação na Infância Alimentação Saudável Amamentação 0

Ao chegar ao Brasil, Pero Vaz de Caminha referindo-se a uma criança sendo amamentada por uma índia e demonstrando estranhamento, escreveu ao rei de Portugal, – “… com um menino ou menina ao colo, atado com um pano aos peitos …”. Naquela época, para as mulheres europeias pertencentes às classes sociais ricas, amamentar era considerado indigno, sendo  delegado às camponesas da redondeza.
A recém formada sociedade brasileira, imitando a prática europeia, também resolveu incumbir às índias e posteriormente às escravas africanas, a tarefa de amamentar seus filhos. 
No entanto, a amamentação já havia sido deixado de ser um ato natural e fisiológico há mais tempo. 
  • Em 1784, o médico inglês Underwood recomendou pela primeira vez o uso do leite de vaca como alternativa ao leite humano. Nesta ocasião, as mulheres inglesas da burguesia e as que possuíam boas condições financeiras, recusavam-se a amamentar seus filhos. 
  •  Em 1838, a descoberta de que o leite de vaca apresentava maior conteúdo de proteínas que o leite humano foi considerada um marco referencial, e levou ao favorecimento de seu uso. Surgiram também nesse período as primeiras mamadeiras de vidro. 
  • Em 1845, foi patenteado nos Estados Unidos o bico de borracha. 
  • Em 1856, época em que não havia refrigeradores, foi descoberto o método para produzir leite condensado, criando a alternativa de um leite estéril e passível de conservação. 
  • Em 1872, em razão de seu baixo teor de gordura, o uso do leite condensado deixou de ser recomendado, devido ao desenvolvimento não satisfatório das crianças alimentadas com este produto. Nessa ocasião, foi publicada uma escala de percentagens da mistura leite de vaca/água/açúcar para cada idade do bebê. Iniciou-se assim a orientação alimentar infantil por “percentagens”, com formulações individuais. 
  • No final do século XIX, companhias americanas que se destacaram na produção do leite evaporado procuraram sensibilizar mães e profissionais de saúde lançando campanhas pelo uso de mamadeira. 
  •  Em 1915 foi introduzida nos EUA a fórmula infantil. Este foi o primeiro passo para que laboratórios lançassem comercialmente fórmulas preparadas especialmente para uso infantil. 
  •  Em 1929 entrou no mercado americano a primeira fórmula à base de soja produzida comercialmente. 
  • Na década de 40 várias indústrias de leites artificiais se instalaram no Brasil, e foi somente a partir de 1970 que a percepção sobre a prática da amamentação começou a mudar, quando indicadores de saúde da criança apontaram os altos índices de morbimortalidade infantil nas populações pobres da África, Ásia, América Central e no Brasil, principalmente na região nordeste do país.

O século passado foi marcado por um declínio progressivo da popularidade do aleitamento materno, com menos mulheres iniciando o aleitamento materno e mais mulheres desmamando precocemente.
Entretanto, de acordo com levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 26 mil crianças menores de cinco anos de idade morrem em média a cada dia em todas as partes do mundo por causas que poderiam ser evitadas com a prática da amamentação, e deste total, cerca de 50% por desnutrição. 

Ao longo da história, as industrias de leite artificial vêm de forma agressiva nos fazendo acreditar que o leite artificial é tão bom quanto o leite materno.
Infelizmente, como já tenho visto, pediatras e profissionais da saúde, seduzidos pelos fabricantes de leite artificial, indicam suas fórmulas como se fosse a maior maravilha do mundo. Nós mulheres e mães temos o direito de optar ou não pela amamentação, mas embasadas em  informações corretas e verdadeiras. 
Pensem nisso!



fonte: Melcarne, C G.  Perfil dos usuários do disque amamentação do grupo de mães amigas do peito. Rio de janeiro, 2010.