Quebrando paradigmas: gorduras saturadas não são ruins como se pensava

Nutricionista Christine Melcarne. Atendimento no Rio de Janeiro, em Consultórios em Botafogo e na Barra da Tijuca

Quebrando paradigmas: gorduras saturadas não são ruins como se pensava

março 14, 2014 Alimentação Saudável Saúde e Comportamento Saúde na mídia 0

“Toda verdade passa por três estágios.

No primeiro, ela é ridicularizada.

No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria.”

Arthur Schopenhauer


Uma dieta de baixa gordura saturada não reduz o risco cardiovascular nem lhe ajuda a viver mais. Publicada recentemente no British Medical Journal, essa foi uma noticia bombástica para muitos que acreditam que alimentação saudável é sinônimo de baixa ingestão de gorduras saturadas. Mas parece que essa “verdade” tem seus dias contados.
“Uma dieta de baixa gordura saturada não reduz o risco cardiovascular nem lhe ajuda a viver mais, afirma uns dos principais cientistas de pesquisa cardiovascular dos EUA e doutor em farmacologia em um editorial na revista científica Open Heart.”
De acordo com a pesquisa, foi um equivoco  a substituição das gorduras saturadas por carboidratos refinados, carregados de gorduras poli-insaturadas.
Como já postei anteriormente, a gordura saturada, considerada a grande vilã das doenças cardiovasculares, está sendo absolvida. Novos estudos apontam que na verdade, a principal causa de doenças cardíacas na população são os alimentos processados, os carboidratos refinados, açúcar e os óleos vegetais refinados produzidos a partir de sementes.

Dieta pobre em gordura não reduz risco de doença cardíaca
Diz o pesquisador James DiNicolantonio, autor do editorial publicado no periódico científico Open Heart em uma publicação no  site do IG.
Matéria publicada no site IG, em| 08/03/2014
Segue a entrevista na integra:

“Aconselhamento atual de substituir gorduras saturadas na dieta estaria baseado em dados falhos da década de 1950”
“A guerra entre manteiga e a margarina, ou entre a dieta da gordura vegetal e a da gordura animal, ganhou mais um capítulo na semana passada. O editorial do periódico científico Open Heart, do considerado British Medical Journal, afirma que a dieta pregada pela Associação Americana de Cardiologia, pobre em gordura saturada (gordura presente principalmente em produtos de origem animal), não diminui os riscos de doenças cardíacas, nem ajuda a obter uma vida mais longeva.
No editorial, o cientista cardiovascular James DiNicolantonio afirma que o aconselhamento atual de substituir as gorduras saturadas na dieta é baseado em dados falhos e incompletos da década de 1950. A Associação Americana recomenda o consumo limitado de gordura saturada em menos de 7% do total de calorias diárias e prega a substituição de gordura animal por gordura vegetal.

Veja abaixo entrevista concedida por James DiNicolantonio:

iG: Por que você decidiu escrever este editorial?
James DiNicolantonio: Eu queria passar a mensagem correta, pois acredito que muitas pessoas estão sendo prejudicados pelas atuais orientações. As pessoas precisam saber quão ruim é para a saúde comer açúcar, carboidratos refinados e determinados óleos vegetais processados.

iG: Por que dietas pobres em gordura saturada não refreiam o risco de doenças cardíacas nem ajudam a viver mais?
DiNicolantonio: A gordura saturada é a gordura estável e suscetível ao ataque de radicais livres, assim cozinhar com mais óleos vegetais também não é uma boa ideia, já que os óleos são provavelmente altamente oxidados quando ingeridos. Quando a gordura saturada é substituída por carboidratos refinados, há um aumento na resistência à insulina. Isto causa o surgimento de partículas pequenas e densas de LDL, o mau colesterol, (que oxidam mais facilmente do que as partículas grandes de LDL) e também o maior acúmulo de gordura visceral (obesidade), inflamações no corpo e promove a doença cardiovascular. Se as gorduras saturadas são substituídas por óleo de milho ou de cártamo, estes óleos se incorporam ao LDL, o que faz o LDL muito mais suscetível à oxidação.

iG: Que explicação os cientistas deram em 1950 para afirmar que gordura saturada era prejudicial para a saúde?
DiNicolantonio: Em 1953, Ancel Keys publicou um estudo chamado “As seis cidades” que sugeria que quanto mais calorias de gordura uma pessoa consome, maior é o risco de ter doenças cardíacas degenerativas. Porém, o estudo tinha um problema: pegava apenas seis cidades, quando havia informações sobre 22 cidades. Cinco anos depois de este estudo ser publicado, dois autores publicaram os dados completos das 22 cidades e a relação entre gordura e doenças cardíacas diminuiu muito.

iG: O estudo das seis cidades foi publicado nos anos 1950. Por que esta relação entre gordura saturada e doenças cardíacas ainda é levada em conta atualmente?
DiNicolantonio: Há provavelmente uma porção de razões para isto. Uma delas e, talvez a primeira, é que nos Estados Unidos, nós não queremos admitir que estávamos errados. Mesmo que isso seja tão óbvio. Veja que uma vez que a orientação promoveu a redução de gordura saturada, houve o aumento do consumo de carboidratos refinados e de açúcares, que estão diretamente relacionados com o aumento da obesidade e diabetes. A segunda razão estaria ligada ao fato de muitas orientações de dieta serem tendenciosas e não terem revisões sistemáticas e de meta-análises. Geralmente elas partem de uma noção preconcebida. Promove-se ensaios que apoiam uma ideia e rejeitam os ensaios que não apoiam esta teoria.

iG: Qual foi o motivo desta demonização da gordura saturada? De onde partiu isso?
DiNicolantonio: Quando o presidente americano Eisenhower teve seu primeiro ataque cardíaco, os americanos ficaram desesperados por uma explicação sobre o que causava doenças cardíacas. Nesta época, foi pensado, pela primeira vez, que a gordura animal aumentava o colesterol e que a gordura vegetal o reduzia. Também se pensou que quanto maior o nível de colesterol de uma pessoa, maior o risco de ela ter doenças cardíacas. Então, chegou-se a conclusão de que baixando a gordura animal na dieta diária, substituindo alimentos ricos em gordura saturada por gordura vegetal, isto diminuiria o risco de doenças cardíacas por baixar o colesterol. Porém, esta teoria já se mostrou significativamente falha.

iG: Que estudo recente prova que esta teoria estaria errada?
DiNicolantonio: A pesquisa mais recente que temos é a meta-análise publicada em 2013 por Chris Ramsden no British Medical Journal. Nesta pesquisa ele demonstrou que ao substituir gordura saturada, mais gordura trans, por gorduras omega-6, principalmente óleo de milho e cártamo, cresceram os riscos de morte por doença coronária e cardiovascular em quase 10 mil pacientes que participaram de ensaios clínicos randomizados.

iG: O senhor acredita que o aumento de doenças cardíacas na população está ligado a uma dieta pobre em gordura saturada?
DiNicolantonio: Eu acredito que o aumento de doenças cardíacas na população é devido, principalmente, ao aumento de alimentos processados. Isto incluiria mais açúcar, mais carboidratos refinados e mais óleos vegetais processados.


iG: Qual a sua opinião a respeito da dieta mediterrânea, rica em peixe, frutas, verduras, legumes e cereais, e limitada em carnes vermelhas e laticínios?
DiNicolantonio: A dieta mediterrânica tem baixo teor de açúcar e pouquíssimos alimentos processados ou carboidratos refinados, mas ninguém fala sobre este ponto importante. Ela também desbancou a dieta de baixo teor de gordura, pregada pela da Associação Americana de Cardiologia em dois ensaios clínicos. O estudo PREDIMED (Prevención con Dieta Mediterránea), indica uma redução maior na incidência de doenças cardiovasculares com uma dieta mediterrânea, comparada com uma dieta de baixo teor de gordura. O estudo que ficou conhecido como Lyon Diet Heart Study mostrou que a dieta mediterrânea reduz doenças cardiovasculares se comparada à dieta de baixa gordura saturada. Acho que também trata-se de algo sobre o estilo de vida de pessoas que vivem no Mediterrâneo e não apenas o que é consumido nestas regiões.”



Outras notícias recentes seguindo a mesma linha:

EUA propõem novos rótulos que ‘aceitam’ gordura e ‘demonizam’ açúcar
Matéria da BBC, publicada no site uol em 02/03/2014

 “A primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, apresentou nesta semana uma proposta da agência americana de alimentação com novas regras para os rótulos de alimentos vendidos no país.
As novas recomendações têm de diferente o fato de não destacar tanto os males causados pela gordura, e sim de dar mais destaque a um outro ingrediente polêmico: o açúcar.
Isto reflete uma tendência crescente no debate sobre alimentação.  Cada vez mais pesquisas mostram que a gordura pode, na verdade, fazer bem para a saúde. Já o açúcar é considerado cada vez mais um vilão, e ainda por cima ele vem “escondido” na maioria dos alimentos.”


Gordura saturada não é a vilã para o coração, diz estudo.
Matéria publicada no site terra em 23 de Outubro de 2013
“As gorduras saturadas da manteiga, do queijo e da carne vermelha não são tão prejudiciais para o coração como se pensava até agora, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (23) na revista médica British Medical Journal.
A pesquisa foi coordenada por Aseem Malhotra, um dos cardiologistas mais prestigiados do Reino Unido e especialista do hospital universitário de Croydon, em Londres.
Em seu artigo, Malhotra afirma que o consumo de produtos com pouca gordura “paradoxalmente” aumentou o risco de ter doenças cardiovasculares.
Segundo o especialista, as pessoas consomem todo tipo de produtos desnatados pensando que são melhores para a saúde e que ajudarão a perder peso, mas que, na realidade, muitos deles contêm grandes quantidades de açúcares acrescentados.
A explicação é que a indústria alimentícia substitui as gorduras eliminadas nos alimentos por açúcares e adoçantes, já que a comida livre de gordura não é tão saborosa, acrescentou Malhotra.
No entanto, acrescenta o especialista, é necessário diferenciar as chamadas “gorduras trans” (encontradas em fast food, produtos de confeitaria e margarina), que são prejudiciais, e as gorduras do leite, do queijo e da carne, que não são ruins para a saúde.
O especialista criticou a “obsessão” médica com os níveis de colesterol, que levou milhões de pessoas a tomarem muitos remédios com estatinas para reduzir a quantidade de gorduras prejudiciais no sangue.
Para isso, o cardiologista recomenda que as pessoas com risco de sofrer doenças cardiovasculares façam uma dieta mediterrânea rica em peixes oleosos, azeite de oliva, verduras e frutos secos.
“É hora de romper o mito do papel das gorduras saturadas nas doenças do coração” que esteve presente na indicação dietética e nas recomendações nutricionais durante quase quatro décadas, afirmou Malhotra.
A teoria foi respaldada por outros especialistas como David Haslam, Chefe do Fórum Nacional sobre a Obesidade, que afirmou que a evidência científica está demonstrando atualmente que os carboidratos refinados e o açúcar são na realidade os culpados pelo aumento da gordura no sangue.
Timothy Noakes, professor de ciências do esporte e da atividade física na Universidade da Cidade do Cabo, acrescentou que “o pior erro médico de nossa época foi considerar a alta concentração de colesterol no sangue como a causa exclusiva da doença cardíaca coronária”.

Outras noticias que podem te interessar:

Alimentos de baixa gordura recheados com níveis “perigosos” de açúcar
Disponível em: http://www.telegraph.co.uk/health/healthnews/10668189/Low-fat-foods-stuffed-with-harmful-levels-of-sugar.html

Fontes:

J. J. DiNicolantonio. As consequências cardiometabólicas de substituir gorduras saturadas por carboidratos ou gorduras ômega-6 poliinstaturadas: As diretrizes dietéticas entenderam tudo errado ? Open Heart, 2014; 1 (1): e000032 DOI:10.1136/openhrt-2013-000032

EUA propõem novos rótulos que ‘aceitam’ gordura e ‘demonizam’ açúcar em 02/03/2014 – Disponível em: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/bbc/2014/03/02/eua-propoem-novos-rotulos-que-aceitam-gordura-e-demonizam-acucar.htm


Alimentos de baixa gordura recheados com níveis “perigosos” de açúcar. Disponível em: http://www.telegraph.co.uk/health/healthnews/10668189/Low-fat-foods-stuffed-with-harmful-levels-of-sugar.html